Imagine-se estando em uma embarcação, navegando em águas tranqüilas, é quase impossível saber o que pode acontecer ou o que está a sua frente devido ao comodismo de toda calmaria que é vista instantaneamente; sem tribulações com o mar; sem as revoltas do tempo; sem qualquer dano na estrutura física; não há possibilidade de prevê as próximas horas adiante. No imaginário é um momento para descansar e curtir o que pode ser proporcionado.
Estive como esta embarcação por alguns meses. Não me queixava das rachaduras que foram criadas nesse período; todas as situações tempestuosas não me abalavam; as discussões não me faziam tão mal como poderia ser. Ou seja, estava muito bem, caminhando em uma mansidão e buscando a bonança diante de tantas dificuldades.
Como nunca previ nada, apenas imaginava um futuro grandioso, não me dei conta que uma tempestade estava se formando além do horizonte, quando ela chegou não tive como conter, naufraguei diante da turbulência dos meus sentimentos. Sem encontrar um refúgio ou um lugar que me abrigasse permaneci no mar da desilusão em busca de respostas para compreender o que houve de errado, o motivo pelo qual não foi registrado ou alertado nos meus sentidos que aquilo fosse acontecer.
Por muitas semanas estive sozinha e decepcionada comigo mesma por não ter feito nada e que neste momento não tendo muito que fazer. Esperar por ajuda seria o suficiente, mas naquela hora não acabava por completo toda a angústia que sentia. Bebi de várias águas: da incompreensão ao engano, da infelicidade ao incapaz, da rejeição ao completo marasmo. Busquei em lugares incompreendidos que mal sabia que existia. Passei a familiarizar mais com estes lugares na tentativa de sair da minha monótona situação.
Após meses pude encontrar o caminho de volta e estou retirando todas as marcas que ainda há em mim e todo este tempo perdida, só agora consegui enxergar o que não conseguia: A diferença. Percebo que estive lutando por algo que não é para mim. Que não faz o menor sentido estar ao lado do que não tem parte comigo. Como não pude ver isso? O questionamento veio agora, caiu de pára-quedas para me salvar, junto com ele um bote e um par de remos para navegar em novas águas.
Não é muito comum estar com alguém que não tem os mesmo pensamentos e atitudes que as suas. Como é engraçado perceber isso depois de tanto tempo!!! Sempre estive pronta para estar onde quer que fosse, para percorrer o caminho que fosse traçado, trilhar novos rumos. Não tenho tempo para brincar de futuro. Tenho pressa. Todos os meus planos foram junto com o naufrágio. Agora tenho que reconstruir tudo para um novo ideal e creio que não demorará.
Fico a lamentar que terei de fazer tudo novamente, refazer os meus sonhos, reconquistar a minha confiança perante as pessoas, sair da minha sombria maneira de sentir algo pelo outro, retirar a frieza que encobre o meu coração e tentar aquecê-lo, construir o que sempre quis ter na vida. Estou pronta, basta alguém que me complete de verdade.
Incompreendida, enganada e cega. Nunca pensei que uma pessoa pudesse me afetar tanto. Bem vinda ao mundo dos mortais. Cai do meu mundo para viver na ingratidão e na desumanidade das ações do homem. Acordei de um sonho que pensei que não acabaria. Agora viverei como estava e com mais dois motivos para seguir em frente e não olhar mais para trás. Só espero que da próxima vez consiga identificar antes que aconteça uma tragédia. Pois bem, bem vinda ao mundo real. Saí da minha fantasia para encarar a realidade e só ganhei desprezo apesar de inúmeros sentimentos novos que nasceram em mim, nem tudo foi uma catástrofe como poderia ser. Tenho lá os meus ganhos e estes ficarão no meu mundo fantástico longe das péssimas influências deste mundo. Agradeço. Estou voltando para a terra firme e nessas águas não quero estar. Nunca mais. Isso é tudo!