A Menina do Coração Tagarela

Esse coração fala demais.

A Taverna das Ilustres Memórias - Parte II

Diante do lago Ulrich observa cada instante daquela noite. Observa as nuvens, as estrelas, a sua própria existência. Não há nada mais trágico do que viver sozinho. Independente do que possa acontecer ter pessoas para entender suas fraquezas e confessar seus temores são muito mais relaxantes. Pensando assim, ele segue para sua casa que fica no alto da colina, um lugar iluminado pela lua, onde o sol toca primeiro quando nasce, onde os pássaros fazem suas primeiras moradas, um lugar feliz, rico de beleza e o seu colorido contagia até o mais obscuro coração.

Enquanto que na casa de Amelia, as perturbações dos pensamentos sobre o seu amigo perpassam e não consegue entender o quão seco foi à resposta. Logo, decidi visitá-lo pela manhã. Amanheceu. A moça prepara algo para levar até o seu conterrâneo. Com o seu longo vestido preto ela sobe a colina levando alegria e boas risadas. Sem perceber a presença de alguém chegar, Ulrich estava cortando lenha para aquecer sua noite quando eis que bate à sua porta.

- Bom dia! Vim trazer isto para você.

Sorridente entrega o que levou; o anfitrião estava meio atordoado com a visita matinal. Ulrich conduz a sua visita para o outro lado de sua casa. Aquela manhã começou a irradiar mais felicidade. Mesmo que não haja nada o que dizer a paisagem, que é proporcionada pela natureza do lugar, fala mais alto do que qualquer palavra que possa ser dita.

Palavras que machucam ou alegram quando desejam, não entendemos os motivos pelos quais devemos ter um respaldo para não cair neste jogo. Apesar de toda a atenção que se possam ter, elas nos atrai para um caminho que muitas vezes não tem fim, dependendo da situação há dois rumos: um bom e outro ruim. Não escolhemos apenas torcemos para que tudo saia como se espera que seja, caso contrário, o afastamento é o mais provável.

Nem todos os pensamentos devem ser seguidos e ainda assim, continuar no mesmo barco por muito tempo irá afogar qualquer chance de volta para a vida. E sem as palavras necessárias Amelia questiona sem saber como dar início.

- Ulrich, eu não compreendi bem o que você disse ontem sobre não ter por quem lutar. Foi tão seco o que dissestes que acredito que não falas a verdade. O que há contigo? Não quero forçá-lo a me dizer o que não desejas, mas quero poder te ajudar. É só isso! Não quero aborrecer-te, meu amigo!

E respondeu ele.

- Amelia, no momento não tenho por quem lutar, estou sozinho neste mundo. Já enfrentei muitas lutas e esta não consigo vencer, gostaria que fosse mais fácil ou mais simples de seguir e hoje não tenho qualquer perspectiva de vida. É apenas isso!

Um pouco aflita devido às palavras de seu nobre amigo a jovem moça segue com outros assuntos para não atrapalhar o momento mágico de alegria que estava aquele dia. Com receio de fazer novas perguntas ela decide ir embora para deixá-lo sozinho com os seus pensamentos e não imagina o quanto o seu amigo precisa dela.

Aquela manhã tinha tudo para ser mais agradável possível, no entanto, a doce jovem não correspondeu para que tudo saísse como pudesse ser. Ulrich passara o dia tentando esquecer o ultraje que sua amiga fez, mas ele não vê com um insulto diante de muitas coisas que já passou na vida e, por ainda ser tão jovem, as decepções o perseguem para onde quer que vá. Anoitece e Amelia não sabe o que fazer diante da perturbação que tem o seu coração. De alguma maneira deseja ajudar o seu amigo, porém não têm meios nem sabe o que ele tem ou esconde. Ela persiste na sua agonia de que Ulrich esconde algo dela e crê que irá descobrir.

O rapaz é cheio de mistérios estes que ele teme por toda a vida. Mas a pergunta ainda não foi respondida, será que há alguém por quem lutar? Independente de que seja ele, realmente existe? As dúvidas vão e vem e apenas memórias tomam conta do que resta de pensamento e o que resta de sentimento dentro do coração. Talvez não seja ele quem esconde algo, quem sabe ela, ambos não têm certeza, o que sabem é que um tenta ajudar o outro.

A Taverna das Ilustres Memórias

Muito do que se pode ouvir está longe do nosso alcance por uma infinidade de razões que não podemos compreender. E estando assim, alheio a quaisquer desventuras que ocorra, nada inclui na vida de quem deseja recriar. Seguindo para uma Taverna longe de seus princípios básicos Ulrich convida sua amiga Amelia para uma conversar e discutir o que realmente a vida tem a mostrar; ainda.

E chegando ao local sombrio, por sua própria escuridão de esperança, eles seguiram para uma mesa. Era frio e congelante aquele fim de tarde, os pássaros já procuravam o seu ninho, as folhas ainda caíam por sua natureza, era setembro, tempo de mudanças, e muitos que buscavam boas risadas e saber da vida alheia estavam nesta Taverna escura e cheia de amargura por quem costumava visitar ou simplesmente provar do melhor hidromel da região. Muitos já foram vistos ali, cavaleiros do alto escalão de grandes reinos próximos a Avalon, príncipes disfarçados, monges que após grande período de reclusão batia o seu ponto para refrescar suas mentes e muitos outros lordes, nobres e simples pessoas que tentavam encontrar uma felicidade na vida e às vezes apareciam para afogar suas mágoas.

Ao longo dos tempos a Taverna sobreviveu aos perigos das mudanças de lideranças que queriam expandir suas fronteiras, Avalon já não existe mais, no entanto, preserva suas características de um vilarejo tranqüilo e amoroso de grandes pessoas e por ser um local para as lembranças.

Ulrich chama a taberneira e pede a grande especialidade da casa: o famoso hidromel. Amelia, ainda atormentada pela carga emocional que possui o local, confessa o seu medo e aflição não só por estar ali como pela vida que tem.

- Olhe! Veja aqueles lordes que está logo ali naquela mesa, o que te faz pensar meu caro amigo que eles estão felizes ou comemorando algo de bom de acordo com suas esbravações sonoras? Sem qualquer receio em responder a jovem moça Ulrich responde.

- Não vês que eles apenas sorriem pelo o que estão consumindo, não há nada ali que mereça destaque de ser um modelo para você. Pobres homens! Enquanto estão aqui para tentar chamar atenção de quem freqüenta como será que estão seus pensamentos agora? O que será que está acontecendo na sua vida para fazer tal coisa? Será que existe alguém por quem lutar?

Aquele fim de tarde renderia muito daqueles dois jovens que provavam da bebida e questionavam as atitudes dos outros. Estava bastante frio, o sol já não aquecia como antes, era fácil congelar-se por um propósito inusitado. Amélia, inconformada, inquietou-se e esbravejou para o seu amigo.

- Você meu amigo, tens por quem lutar? Intrigado, ele responde.

- Não!

Um breve silêncio toma conta da mesa. O canto dos pássaros desapareceu com a chegada da noite. Acabou o hidromel. A casa já começa a encher com os viajantes que passam a noite no vilarejo. Os dois jovens vão embora e Amelia fica impressionada com o lugar que nunca havia ido; gostou! Pela gentileza de um bom cavalheiro, Ulrich leva sua amiga para casa. Ao longo do caminho permaneceram calados, não retrucam nada além do cumprimento mais que formal.

- Bom, já está em casa. Boa noite!

E ele vai embora. Amelia adentra a sua casa. Seguindo para a sua, ele pára em frente ao imenso lago iluminado pela lua. A noite ainda é mais fria. Afinal, o questionamento ainda é o mesmo. Há por quem lutar? Talvez sim, talvez não. Para quem devo lutar nesta vida, será que existe alguém que mereça todo sacrifício? As dificuldades que possa haver durante o caminho é seguida em vão apenas para uma conquista pessoal e não para compartilhar todos os momentos.