A Menina do Coração Tagarela

Esse coração fala demais.

Como poder expressar a raiva?

              Sabe aqueles dias que parece que as pessoas ao seu lado tiraram o dia para aporrinhar sua paciência? A minha já estava andando numa corda bamba, uma hora ou outra iria cair. E o dia foi hoje. Nunca me senti tão isolada e ao mesmo tempo “de saco cheio” de tanta tolice ao redor, de tanta coisa que você avisa “olhe não faça isso”, “você não se lembra de que eu falei isso?”, “esqueceu o que eu falei?”, “o que foi o que eu disse?”... É meus conselhos não servem de nada.
             Eu só gostaria de pegar minhas coisas e sair por aí, andar sem ter hora para voltar, apenas desfrutando do dia, reordenar os pensamentos e tentar se encontrar novamente. Esquecer, esquecer o meu mundo, que deveria ser o melhor lugar para mim, e passar a viver no mundo real... E o meu mundo é tão fantasioso assim?
               Não, não é. É tão real que as situações mais ridículas acontecem. É, acho que sou a ovelha negra da família. Por tudo eu acho ruim, mas pense comigo: se você avisa que isso e aquilo estão errados e você tenta apontar, por que, ainda assim, acha ruim e ainda é tida como a chata, a implicante, a abusada?
            Eu prefiro ser esta que sempre reclama àquela que se cala diante das situações. É concordar demais com o erro. É ser tola demais, é fechar os olhos e fingir que tudo está bem. Eu prefiro ser assim a ser falsa, do que ser aquela pessoa que tenta sobressair às custas dos outros.
            Eu preferiria estar bem longe, mas bem longe e ver que estava certa. Mas prefiro estar bem longe e esquecer. Estou sendo contraditória. Mas esta sou eu. Com acertos e muitos erros. Não sou perfeita. Não quero ser. Talvez, não quero nem tentar ser. Estou cansada de mim. Estou cansada de tudo. Estou cansada daqueles que eram para estar ao meu lado, mas são os primeiros a virarem às costas. E como poderei confiar? Não serei eu tão confiável assim?
          É duro saber das coisas por último. Sinto-me indigna de confiança. Diria que traída. Isso me machucou bastante.  Para piorar, veio pessoas, ou melhor, daquelas que você tanto protege, daquelas que você tanto ama, daquelas que você nem gosta de ver chorar que chora também. Eu era forte. Eu era fria. Hoje sou pedaços de um sentimento guardado durante uma vida. Hoje sou quem eu deveria ter sido em cada momento da minha vida.
         Todas as frustrações do passado se uniram para desfalecer as minhas forças, derrubar a minha muralha e me deixar à mercê do que tanto me protegi: o sofrimento. Quem sabe agora eu seja mais humana. Quem sabe agora eu acordei e estou vendo o mundo como ele é. Não sinto raiva, não sinto desprezo, sinto-me traída. Só isso. Traída.

Revista Rock Meeting #34