A Menina do Coração Tagarela

Esse coração fala demais.

A Taverna das Ilustres Memórias - Final

Os dias foram passando, a neve já começa a derreter sobre o tempo frio, o sol morno não consegue alcançar o chão. O que estava sendo esperado não podia acontecer diante do caos que aquele vilarejo assombrava. Mesmo assim, toda a aurora romântica pairava sobre os semblantes de Ulrich e Amelia. As árvores, sombriamente, davam o contorno de como seria os próximos dias em Avalon, pelos seus galhos secos transformavam em tons diabólicos os seus movimentos ao tocar do vento. Ninguém espera por uma situação irreal, mas a vida deste jovem casal estava por finalizar.

Não sabia ao certo. Um confronto entre os reinos estava acontecendo. Um mensageiro do Rei chega a Avalon para convocar todos os cavaleiros que haviam sido dispensados para retornar para mais uma batalha em nome de Sua Alteza e em nome do lugar em que eles vivem. O nobre lorde vai até a Taberna onde se encontram a maioria deles. A convocação é feita. Ulrich recebe a notícia e espera amanhecer para contar a sua amada. Era noite e parecia que não queria acabar. Em sua choupana, no alto da colina, Ulrick reserva suas forças para anunciar a sua ida para a batalha sem imaginar qual será a reação de Amelia.

Finalmente amanhece. O sol nasce entre o frio daquele final de inverno em Avalon. Eis que Amelia bate a porta. Ulrich atentamente fala-lhe do acontecido. Não foi uma boa hora.

- Amelia, recebi um chamado e devo cumpri-lo, sei que estamos a pouco tempo juntos, mas quando voltar, não sei quanto tempo levará, nunca mais aceitarei tal oferta e conceberemos o nosso matrimônio.

Não gostando muito do que o jovem proferiu, a moça retruca.

- Eu não gosto nada disso, tenho maus pressentimentos, não quero que vá. Mas se é uma ordem do rei... Prometa-me que terá cuidado e que voltará para mim.

Com seus olhos rasos de lágrimas a bela moça não resistiu e deságua sua frustração nos braços do seu amado que acalenta sua dor. Ao mesmo tempo em que é uma oportunidade para estar cada vez mais junto.

A despedida e o Fim

O dia chegou. Amelia vai ao encontro de Ulrich para prestar os últimos cuidados e reforçar a promessa que o moço fez para ela. Os dois não aguentam a ansiedade de toda a atmosfera e se abraçam num longo e perfeito sentimento que os une. Toda despedida é trágica e sem precedentes. Este dia não era como os outros, o vento que tocava a face com um tecido de seda já não rasgava com tal sutileza, o tempo estava mais frio e os pássaros se recusavam a cantar. Talvez fosse um anúncio do que estava por acontecer.

Os meses foram se passando e a angústia aumentando. Três meses e nenhuma notícia. Já era verão aquele mês, estava tudo mais colorido e um dia lindo para fazer qualquer atividade matinal se não fosse por uma estranha situação. Apenas se ouvia um cavalgar, ao longe, afoito, como se estivesse com pressa. O cavaleiro chega até o vilarejo de Avalon. Desce do seu cavalo. Pergunta a cada um dos moradores se alguém conhece Amelia e poucos puderam dizer onde ela estava. Então o cavaleiro foi a Taberna saber se alguém a conhecia. Até que o informam.

Amelia estava na casa de Ulrich admirando a beleza do lugar quando uma presença interrompe sua manhã. Na ilusão de que fosse o seu amado, ela chama por ele.

- Ulrich, você voltou como prometeu, estava...

Assustada como se tivesse visto algum mal a sua frente, o nobre cavaleiro acalma a jovem moça e pede para que seja forte.

- Amelia, suponho.
- Sim, sou eu.
- Vim aqui, de muito longe, para te dar uma notícia.

Aflita e ansiosa, Amelia ouvi atentamente cada palavra daquele homem.

- Eu sinto muito Amelia, Ulrich não poderá cumprir a promessa que fez a você, estava voltando para este vilarejo quando houve uma emboscada e os cavaleiros do outro reino surpreendeu a tropa. Ninguém escapou! Conseguimos resgatá-lo vivo, mas não resistiu. Ele me pediu para entregar isso a você. Bom, tenho que ir, já completei a minha missão.
Amelia ouviu cada palavra, o seu coração foi se partindo a cada instante que Ulrich estava longe dela, seus olhos ficaram pesados e segurar as lágrimas foi inevitável. O sonho de um estar ao lado do outro não será cumprido. O par de anéis que seriam para os dois, já não tem o mesmo sentido. E o que o dia que poderia ser alegre tornou-se infeliz e cheio de lágrimas.

A Taverna das Ilustres Memórias - Parte IV

Passaram-se meses depois da volta do moço ao vilarejo e nada de tão emocionante acontecia para cortar toda tranquilidade que havia ali. Até que certo dia o sossego foi quebrado, ladrões estavam rondando a região na tentativa de roubar a Taverna. Era noite e os invasores chegaram ao lugar que desejavam furtar. Amelia e Ulrich estavam no momento. Acontece uma briga, e alguns viajantes tentam ajudar, assim como. Com toda a confusão o moço se machuca depois enfrentar um dos ladrões que, com sua espada, atinge o Ulrich no braço e o surpreende com um agressivo golpe pelas costas. Ele cai no chão desacordado. Amélia entra em desespero. A investida dos ladrões foi em vão, no entanto, o jovem estava ferido com alguns cortes e machucados pelo corpo, o sangue jorrava no salão da Taverna.

Amigos de Ulrich o levam para um dos quartos da Taverna e Amelia fica cuidando dele. Enquanto estava limpando os ferimentos de Ulrich, ele acorda e a primeira visão que tem é dela ajudando a sanar sua fraqueza temporária. Com um belo sorriso a moça o traz para vida novamente após sofrer alguns infortúnios em defesa da Taverna.

Passado alguns dias após o incidente na Taverna, já recuperado do susto, Ulrich fica a repousar na beleza do horizonte que é o cenário principal de sua morada. E pensa no que vai fazer para sua amada. Ele, finalmente, tem por quem lutar. Amelia era a pessoa que buscava, mas não enxergava. Estava cego pelas atitudes vividas e perdeu muitos momentos ao lado dela. Amelia sabia que ele fazia o seu coração palpitar cada vez mais, no entanto, não tinha certeza que ele sentisse o mesmo.

Era inverno, todo o cenário colorido foi apagado pelo branco da neve. Não era possível imaginar que a beleza que vista do alto da colina tinha outro tom, mesmo assim, ganhava outro sentimento. Ulrich convida sua amiga para ir até sua casa. Prontamente, assim o faz. Mal esperava que aquele dia fosse o mais importante para a vida de ambos e o significado do que aconteceria.

- Amelia, tem uma coisa que gostaria de falar-te e sempre fugia do assunto por não ter coragem de dizer, mas hoje eu tenho certeza e confessarei tudo o que quero.

Ao ouvir cada palavra dita, e ver a reação do jovem, Amelia não suporta toda a carga emocional que paira sobre o momento. Fica sem acreditar no que ouvia, mas era o que desejava escutar. Por muito tempo esperou e, enfim, à hora chegou e não sabia como resistir. Completamente feliz e ansiosa não teve reação alguma. Um breve silêncio tomou conta. Ulrich não tinha mais uma palavra para dizer, mesmo assim pergunta.

- Então, o que você pode me dizer? Amelia nada falava, a emoção foi tremenda que silenciou todas as suas palavras. Este pode ser o momento que muitos esperam ter na vida e ela estava tendo o dela. Continuando o silêncio, o moço não sustentou a pressão que sentia e apagou o vazio do momento com um longo e esperado beijo. Tudo o que preocupava foi esquecido nos minutos que prosseguia o ato. Amelia não acreditava que finalmente o dia chegou, as suas aflições acabaram com aquele beijo e só imaginava o que poderia surgir de bom para a vida dos dois.

É bem verdade que a vida proporciona alegrias e tristezas, não podemos premeditar nada, pois as ações acontecem quando devem acontecer e ultrapassar os desejos pela afobação gera constrangimentos e leva o caos para uma vida inteira. O que tinha de ser feito, aconteceu, o que vem logo mais é um mistério. E agora? Viver seria uma boa resposta, muito embora, este viver esconde situações que ninguém imagina passar. Mal sabia os dois que algo estava por vir. As surpresas são bem-vindas desde que sejam agradáveis e não sendo torna-se uma catástrofe na vida de quem aceitou.

A Taverna das Ilustres Memórias - Parte III

No dia seguinte Amelia decide visitá-lo mais uma vez, era um dia tempestuoso, as águas que caiam do céu impediam de ela ir ao encontro do moço, mas não desiste e vai assim mesmo. Vai subindo a colina encharcada e, devido à chuva, tem muita dificuldade de chegar até a choupana, vai segurando entre as árvores que servem de guia até chegar à morada de Ulrich. Molhada, suja, despenteada, com frio, finalmente, chega até a casa dele. Surpresa! Ele não está. Sem qualquer explicação ela continua lá na tentativa de esperar por ele. A chuva continua a cair sobre aquele vilarejo e a paisagem que antes era maravilhoso por suas cores e formas agora tem um tom melancólico e escuro. Ela continua esperando pelo seu querido amigo e nada de ele aparecer, esperançosa continua no mesmo local. E continua chovendo!

É chegada a tarde e nada de Ulrich, preocupada Amelia decide ir embora, e assim o faz. Todos os dias a jovem foi até o alto da colina para encontrar o seu amigo e ele não chega. Por muito tempo ela fez o mesmo trajeto. Vai até a Taberna, onde ele costumava ir, para saber se ele disse algo a respeito de sua saída do vilarejo.

- Taberneiro, por favor, tu conheces Ulrich e gostaria de saber se tens alguma notícia dele, todos os dias subo até o alto da colina e encontro sua casa fechada. Ele não me disse nada, sabes de alguma coisa?

E ele responde.

- Ele apenas disse que irá passar alguns dias fora e disse, também, que tem alguém que ele deve lutar.

Amelia sai da Taberna frustrada e um pouco esperançosa. No período que passou a ir a colina começou a nutrir um sentimento incomum para ela. Não sabia que nome poderia dar, sentia e com muito fervor.

Passou-se muito tempo até a volta de seu amigo e ela estava na porta a sua espera. Ele estava diferente, uma aparência mais serena, mais segura e mais jovial. Ela não percebe que ele chegara de sua longa jornada. Meio que de surpresa ele chama por ela. Amelia salta em seus braços e felicita sua volta. Eles permanecem em um longo e caloroso abraço como se os dois já possuíssem uma vida juntos. E ficaram a contemplar aquele fim de tarde que era um dos mais belos. Após toda a recepção Ulrich leva a moça para casa.

Amanhece e logo cedo Amelia sobe a colina para encontrá-lo mais uma vez e estava ele como se estivesse esperando por ela, sorridente. Ao chegar lá, quase que sem fôlego, Ulrich entrega uma flor para ela e a única coisa que poderia fazer naquele instante era sorrir. A manhã era uma das mais lindas em todos os tempos. Não havia semelhante cor do céu ou do lago, nem o campo era tão verde, tudo favorecia para ser um dia inesquecível. E foi!

Amélia não esperava por nada apenas queria estar com a pessoa que nutri suas esperanças de ter uma vida feliz, mas não sabia se era possível, achava impossível de isso acontecer, acreditava que ele foi à busca de sua amada e ela só queria estar perto dele mais uma vez antes que ele se fosse novamente. Ulrich foi contando o que se passou durante sua ausência.

- Amélia depois daquela visita que me fez e me questionou sobre a minha resposta eu me dei conta que deveria fazer alguma coisa para a minha vida. Antes de ir passei na Taberna, tomei um pouco de hidromel, falei com o taberneiro e fui embora. Durante esse um ano que estive fora percebi que tinha alguém por quem lutar e encontrei. Conheci muitas pessoas, foi muito bom para mim este tempo fora e foi o suficiente para mostrar por quem realmente lutar.

A jovem apenas ouvia o que ele tinha a dizer sobre suas experiências fora do vilarejo, ela sem muito que dizer exprimiu o que fazia durante este tempo sem ele estar presente, imaginando ela que não teria de enfrentar a pior notícia, ele só queria ver as intenções dela a fim de ter certeza do que ele já tinha em mente.

- Ulrich, meu amigo, no dia em que soube que havia viajado eu estava aqui na porta de sua casa, molhada devido à forte chuva que caia e passei a fazer isso quase que todos os dias na esperança que você voltasse, conversei com o taberneiro e ele me falou que você tinha ido e disse que foi lutar por alguém, fico feliz que tenha feito isso. E como já sabe, quando você voltou estava aqui à sua espera. E acredito que a pessoa que você escolheu será muito feliz ao seu lado.

O rapaz acompanhou cada movimento dos olhares e da maneira que Amélia falava e percebeu que sua ida para o mundo não tinha sido em vão. Meio magoada e tristonha volta para casa. No outro dia ao entardecer Ulrich vai até a casa dela e convida para ir a Taverna. Estava cheio o lugar, muitos viajantes e alguns moradores estavam lá. Escolheram uma mesa mais reservada e conversaram sobre muitas coisas, mas a intenção de Ulrich era ter certeza de seus sentimentos pela moça e a cada momento sabia que ele tinha por quem lutar.